A busca da excelência para revolucionar o conhecimento

Foto: Pixabay

Por Nicolle S. dos Santos

Lembro-me de querer estudar fora desde os meus 11 anos. Eu nunca soube dizer ao certo por que, simplesmente era um desejo muito forte que eu cultivava. Hoje, sete anos depois, finalmente entendi a razão.

Eu imagino que existe uma fonte. Uma fonte enorme, com a água mais pura e límpida que já existiu. A água que existe lá é infinita, e cada vez que alguém tira um pouco, a fonte cresce para abrigar mais água.

Porém, o caminho para essa fonte é extremamente difícil. Quem quiser chegar lá deve percorrer montanhas, rios com fortes correntezas e desertos com temperaturas escaldantes durante o dia e um frio cortante à noite. Pouquíssimas pessoas têm coragem suficiente para trilhar esse caminho, já que estatisticamente as chances de chegar a tal fonte são próximas de zero. 

Mas os donos da vila da fonte não são egoístas, e querem dividir essa água com o resto do mundo. Diariamente, eles enchem milhares de baldes. Após passarem por uma estação de engarrafamento, essa água é levada para grandes centros de todo mundo. Todos sabem que aquela água que eles bebem não é mais a mesma da fonte. Durante o trajeto, ela perde grande parte de sua pureza. Mas mesmo assim, tomam de muito bom grado, pois continua sendo o sumo essencial à vida. 

Até meus 11 anos, aquela água era mais do que suficiente pra mim. Apesar de conhecer a velha lenda da fonte, eu não conseguia entender como a água de lá poderia ser tão diferente da que eu tomava. Dois hidrogênios ligados por dupla ligação a um oxigênio. Parecia ser o mesmo. 

Mas a história da fonte não se perdia da minha memória. Eu imaginava aldeões tirando água com seus baldes de alumínio e testemunhando o milagre que era o volume da fonte crescer. Eu queria estar lá, poder provar dessa água e contribuir para o fenômeno inacreditável que era sua multiplicação. Decidi começar minha jornada. Não só porque me apaixonei pelo destino, mas também porque me apaixonei pelo caminho. Por mais desafiador que ele fosse, eu sei que cada pedra que eu encontrasse eu guardaria.

É por isso que eu quero estudar fora. Quero estar num lugar que não só é um centro de difusão de conhecimentos, mas de criação deles. Num lugar onde as pessoas amem ideias e tenham uma curiosidade insuportável que não as deixe com outra opção senão averiguar sua veracidade. Num lugar onde eu possa fazer minhas perguntas e dentro de um laboratório encontrar minhas próprias respostas. Num lugar onde ciência não seja uma matéria, e sim um modo de pensar. E meu coração não me permite aceitar menos que isso. 

Caso você esteja se perguntando, eu não pretendo me mudar para a vila da fonte. Eu amo o local onde moro. Mas também não pretendo trazer parte da água de lá para cá. Lembra das pedras que eu disse que guardaria? Vou usá-las para construir uma fonte na minha própria vila. E depois, em todas as outras que minha longevidade permitir. Meu sonho é que todos possam beber dessa água límpida ao ponto de criarem uma sede insaciável. Eu não tenho dúvidas de que se todos se tornarem eternos aprendizes, esse mundo será um lugar melhor.

O Caminho

Lembro-me de querer estudar fora desde os meus 11 anos. Não porque queria praticar inglês, ou porque teria melhores oportunidades de emprego depois. Eu simplesmente tinha um desejo incontrolável, que só hoje sei de onde vem. De qualquer forma, eu sabia que a realização desse desejo acarretaria em muitos custos. Custos que não só seriam altos demais para minha família, como também não seriam responsabilidade dela, independente do valor. Esse sonho era meu, e era eu que deveria lutar por ele. 

Eu esperava ansiosamente o dia em que completaria 14 anos, e finalmente poderia trabalhar como Jovem Aprendiz. Bom, não foi bem isso que eu fiz.

Queria um trabalho mais dinâmico, e decidi que venderia doces no meu prédio. É engraçado, toda vez que eu tentava cozinhar, algo dava errado. Ou o brigadeiro não dava ponto, ou faltava um ingrediente… mas eu continuava tentando. 

Num desses dias de tentativas, tive a astuta ideia de comer manga no sofá – o que acabou culminando no fim da minha empreitada dos brigadeiros. Meu pai ficou tão bravo que me proibiu de vender os doces. “Mas pai, isso não é justo”, argumentei. “Não tenho nenhuma outra habilidade”, nem a de fazer brigadeiros eu tinha, diga-se. “Se você vai me tirar isso, dê-me outra ideia do que posso fazer porque preciso trabalhar pelo meu sonho.”

Dias depois, meu pai teve uma ideia: eu traduziria textos de marketing em inglês e ele me pagaria R$ 0,01 por palavra. Se eu traduzisse mil palavras, teria R$ 10,00 por dia de trabalho. Nem preciso dizer que fiquei nas nuvens. Lembro do dia em que recebi meus primeiros R$10,00 e comprei um suco de laranja. É como se o suco tivesse outro gosto… O gosto da liberdade de quem sabe que está lutando por seus sonhos. 

Abri quatro envelopes para separar meu dinheiro. No envelope cor de rosa ficaria a parte que usaria para comprar presentes para os outros. No roxo, presentes para mim. O conteúdo do verde, seria usado para lanches. E, por último, o vermelho, que seria o destino da maioria do dinheiro, para estudar fora.

Depois de 5 meses, meu irmão e eu fomos estudar numa escola muito melhor, mas também muito mais cara. Percebi que estava ficando difícil para o meu pai pagar não só pelo meu trabalho, mas todas as outras contas também. Procurei a coordenação do colégio e pedi bolsa de estudos parcial, para mim e para o meu irmão. Eles nos concederam e isso aliviou os gastos. Mas, mesmo assim, não daria para continuar trabalhando para o meu pai, e eu sabia disso.

Agora eu tinha experiência com traduções, e como eu adorava ensinar, pensei que seria uma ótima ideia dar aulas de inglês. Fiz o meu currículo e saí entregando em todas escolas de inglês do centro da cidade. Era muito engraçado, porque todos imaginavam que eu queria estudar e não ensinar. Nenhuma escola nunca me ligou (Que bom! Estou certa de que não existe programa de Jovem Aprendiz para isso), mas uma coisa ainda melhor aconteceu. Um amigo do meu pai estava começando uma empresa e, como sabia do meu objetivo, me chamou para trabalhar.

Trabalhei com marketing de conteúdo (empregando coisas que vi nos textos que traduzia) e aprendi muito sobre como funciona uma empresa, a diferença entre fazer um trabalho e gerar resultado, e principalmente, a defender minhas ideias e princípios independentemente da minha idade. 

Em fevereiro, ao fim das férias escolares, parei de trabalhar lá para focar em outras coisas. 

Nesse meio tempo, eu estava conhecendo mais sobre o processo de estudar fora e descobri que além das boas notas na escola, era importante que me envolvesse em atividades pelas quais fosse apaixonada. Foi aí que decidi tirar do papel um sonho de infância: aprender a cantar. Mas para fazer aulas de canto precisaria de dinheiro. Resgatei então a empreitada dos doces. O brigadeiro que não dava ponto envolvido por uma casquinha de chocolate se tornou o bombom mais famoso da minha escola, e eu ganhei o apelido de Choconick. 

Com o tempo fui me apaixonando pelo mundo da confeitaria e pela ideia de empreender. O auge dessa aventura foi na Páscoa do ano passado, quando vendi mais de 140 ovos. 

Esse dinheiro ficou guardado no envelope vermelho para que ao longo do ano eu pudesse me dedicar à escola, estudar para o SAT (equivalente ao ENEM nos EUA),  praticar exercícios das aulas de canto e escrever as essays, redações que você manda para universidade contando histórias da sua vida e o que você aprendeu com elas.

No dia 2 de janeiro deste ano, finalmente apertei o botão “Submit’’ e mandei minha aplicação para as universidades americanas. Não pude conter um sorriso, que foi tanto de alívio quanto de gratidão. Gratidão por eu ter tido forças pra trilhar todo esse caminho, e por todas as pessoas que me ajudaram. 

Não foi desta vez. Mas não desisto. Vou tentar novamente. Inclusive já estou começando a fazer as provas. E também estou recebendo ajuda da BRASA, que é a associação de estudantes brasileiros no exterior. Acredito que tudo dará certo. Independente do resultado, para ser bem sincera, não estou ansiosa ou apreensiva. Trilhei essa jornada não só porque me apaixonei pelo destino, mas também porque me apaixonei pelo caminho.

O sonho

Meu maior sonho é revolucionar a educação brasileira. Desejo que todos tenham acesso à água pura (que, na minha metáfora, representa o conhecimento) da fonte (universidades de ponta, com produção de pesquisa) que me referi. E possam contribuir para a sua multiplicação.

É por isso que pretendo estudar psicologia e neurociência. Quero aprender o processo de desenvolvimento da mente humana e todos mecanismos biológicos por trás disso. Sei que só entendendo nosso cérebro e mente serei capaz de desenhar um modelo educacional eficaz.

Lá tenho a intenção de fazer pesquisa sobre os processos de aprendizagem e memória. Penso que a escola ainda não se juntou à ciência, o que é muito contraditório, já que esta é o meio para formar cientistas.

Também quero fazer uma porção de outras aulas por lá e, nisso, a flexibilidade do sistema americano me ajudará. Os temas variam entre filosofia, ciências políticas, economia e administração. Cada área de conhecimento tem seu “corpo de pensamento”, e saber “falar a língua” dos profissionais dessas áreas me possibilitará o apoio de que preciso para realizar essa mudança.

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Nicolle S. dos Santos começou trabalhando com tradução e revisão de artigos em inglês. Depois, trabalhou com marketing digital na startup Healfies e atualmente é confeiteira e empreendedora, gerenciando sua própria marca, a Choconick.

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