Aumenta o número de pessoas que deixam o país

A crise econômica, os inúmeros casos de corrupção que enchem o noticiário dia após dia, a violência e a falta de perspectiva estão despertando nos brasileiros o desejo de partir. 

Pesquisa realizado pelo Datafolha em maio deste ano aponta que 43% da população adulta manifestou o desejo de deixar o país. Entre os jovens, com idade entre 16 e 24 anos, esse percentual chegou a 62%. Na faixa dos que têm ensino superior, 56% se mudaria e na classe A/B, 51%. 

E muita gente está transformando esse desejo em realidade. Para se ter uma ideia, em 2011, a Receita Federal recebeu 8.170 declarações de saída definitiva do país. Em 2015, o número já havia subido para 14.612 e, no ano passado, foram 21.236. De acordo com a pesquisa do Datafolha, os destinos preferidos para quem quer sair do país são EUA, Portugal e Canadá. 

Os Estados Unidos seguem como o principal destino que quem decide tentar a vida em outro país, concentrando 42% do total de brasileiros vivendo no exterior. 

Foi para lá que o profissional de Comunicação e Marketing Fernando Couto e Magalhães se mudou há três anos com a mulher e os três filhos, hoje adolescentes. “A escolha se deu pensando na família, principalmente nos filhos, buscando um país onde as pessoas se respeitam, valores morais e familiares são preservados e as oportunidades de trabalho e estudo de qualidade existem, assim como a justiça e a segurança de pode caminhar sem ter a preocupação em ser assaltado”, afirma ele.

Fernando destaca que tem esperança e que o Brasil viva momentos melhores, “onde o jeitinho brasileiro e os atuais valores distorcidos deem lugar a ações honestas, e as pessoas se respeitem e tenham oportunidades, independentemente de idade, cor, sexo ou raça”.

Portugal

Portugal tem se mostrado outro destino de grande interesse dos brasileiros. Só no ano passado, o país emitiu 11,6 mil vistos de residência a brasileiros e 5,3 mil para italianos, sendo que uma parte desse contingente era de brasileiros com cidadania italiana. O número de brasileiros vivendo em Portugal chega a cerca de 85,4 mil, o que equivale a pouco mais de 20% dos estrangeiros no país.

A capital portuguesa, Lisboa, foi o destino escolhido pela jornalista Bel Molina, de Brasília, que se mudou há um ano e meio. Como principal motivo para a mudança, ela aponta a segurança. 

Em visita ao país em 2016, ela se impressionou com a tranquilidade das pessoas ao caminhar pelas ruas da cidade. “Aqui não vivemos apavorados com a violência urbana”, diz. Embora existam casos de furtos no transporte público e até mesmo nas ruas, ela destaca que não é comum uma pessoa ser abordada por criminoso armado nas ruas. 

Embora distante, Bel não deixa de acompanhar o noticiário sobre a terra natal. Ela destaca que votará para presidente em outubro. “Quero que o Brasil volte a respirar. A sensação que tenho é de um país estrangulado, sufocado por problemas de toda ordem. Quero que nossa moeda volte a ser forte, que as pessoas não se sintam estimuladas a fazer as malas e mudar completamente a vida em busca de algo melhor em outro país, porque a realidade é outra. Tem que estar preparado para isso. Vejo esse “boom” de brasileiros mudando ou querendo mudar para cá. Chegam aqui e percebem que há emprego, sim, mas em áreas totalmente diferentes de suas carreiras ou profissões, moradia é cara, entre outras coisas, daí a necessidade de se preparar para uma mudança dessas. Espero que o próximo presidente e sua equipe consigam realmente encontrar soluções, pois de problemas o povo já está cheio. Desejo muito boa sorte, vontade e competência para isso”, observa. 

Jéssica Nigra, influenciadora digital e assessora de imprensa, também acredita que a mudança para Portugal seja definitiva. Ela trocou o litoral paulista pela cidade de Braga com o marido e dois filhos pequenos há poucos meses. “Para mim existem três pontos essenciais na criação dos meus filhos: Saúde, Segurança e Educação. Essas áreas encontram-se sucateadas em nosso país, apesar da carga tributária altíssima que pagamos, ainda temos que contratar e pagar valores absurdos pra ter esses serviços de forma particular e ainda assim deixando a desejar. Essa imensa desigualdade social que existe em nosso país também me assusta muito, acredito que o atual momento político é de mudança e renovação, mas preferi não pegar pra ver e esperar por essa mudança”, diz.

A família optou por Portugal pela similaridade do idioma e por serem descendentes de portugueses, o que facilitou a mudança. O que mais chamou a atenção desde que chegaram foi a sensação de segurança nas ruas. “A sensação de andar na rua, deixar seus filhos brincarem sem medo, já faz valer todos os sacrifícios da mudança”, afirma. 

Nenhum dos entrevistados conseguirá votar nestas eleições, mas todos acompanham os acontecimentos com a mesma expectativa: de que a situação melhore por aqui.

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