Redes Sociais não querem ter o mesmo fim dos e-mails

Há 20, 15 ou 10 anos, o e-mail era tudo.

Pelo e-mail você “falava” com o mundo. Você contatava quem quisesse…

E-mail era a Internet, era o futuro, presente. Era o início, o fim e o meio.

Nada nem ninguém, porém, pensou que ele poderia acabar.

Mas ele acabou. Acabou porque perdeu sua credibilidade.

O e-mail foi usado e abusado indiscriminadamente, por todos, principalmente quando a mensagem passou de sua condição de Mídia de interação para um meio barato de difusão de ofertas comerciais, SPAMs e mensagens maliciosas encobrindo vírus e ferramentas nocivas aos internautas.

Hoje, os e-mails oferecem fórmulas mágicas para ganhar na Mega Sena… Viagra para mulheres… Atualização de software que você não possui… Recadastramento bancário de cujo banco você nunca foi correntista…

A ferramenta continua a existir, mas sua credibilidade é nula.

E o que dizer, então, das Redes Sociais?

A tecnologia “embarcada” nas gigantescas estruturas das grandes empresas (Facebook, Google, Linkedin, YouTube, Twitter) dispõe de intrincados mecanismos de proteção para suas redes e conexões, assim como para tudo o que é inserido, a cada segundo, mundo afora.

Mas a “febre” que mais amedronta as grandes empresas de tecnologia não está nas invasões, nas tentativas de contaminação por “cookies” ou na desativação, mesmo que precária, de suas plataformas instaladas ao redor do mundo. O grande receio é torna-las fúteis e desacreditá-las.

O conceito vale mais do que o valor do equipamento.

A Marca é infinitamente mais importante e mais valiosa do que qualquer receita bilionária via publicidade.

E no universo das Mídias Sociais a palavra que mais aterroriza empresas, anunciantes, inventores e acionistas tem um nome: o “fake”.

E o “fake” não é aquela página do FACEBOOK ilegalmente criada para difundir – em tempos eleitorais, principalmente – os adversários.

“Fake” não é aquele perfil maliciosamente criado para falar bem de quem queremos e… falar mal de quem temos como alvo.

As grandes empresas de tecnologia preocupam-se com o “atacado” e, para elas, o atacado é o sentido dado ao noticiário veiculado pelas Mídias Sociais que busca denegrir, descontruir, atacar, em gigantesca escala.

Sim, falamos de política. É a guerra da notícia. Em todos os países. Em cada novo período eleitoral.

É a “esquerda” e suas muitas mídias, jornais, rádios, Redes Sociais, criando, gerando e difundindo mentiras que lhe interessam.

É a “direita” e suas muitas mídias, jornais, rádios, Redes Sociais, criando, gerando e difundindo mentiras que lhe interessam.

Nessa guerra – todos sabemos e muitos de nós colaboramos – os feridos são muitos, sem distinção: perde o bom debate; todos perdem a credibilidade; as Mídias Sociais, as empresas de tecnologia e seus produtos, também. E, como ainda não temos um substituto para as Redes Sociais, e como as Redes Sociais são, hoje, as empresas com altíssima capacidade de capitalização (muito mais do que o petróleo, a energia em geral, celulose-papel e armamentos, por exemplo), é de se esperar que tenhamos, em poucos anos, a concretização de novos mecanismos inibidores, ativos e reativos, para um controle mais rigoroso, eletrônico e sutil, a monitorar ainda mais o que se publica e se divulga, de forma massiva, nas Redes Sociais.

A China, a Coréia do Norte, Cuba e outras ditaduras já aplicam, com mão de ferro, suas políticas rigorosas de proibição de conteúdo, controlam e monitoram os cidadãos “suspeitos”, a Imprensa e toda e qualquer inserção gerada de fora de suas fronteiras. Mas, numa ditadura, isso tudo é de se esperar.

O que podemos dizer quando dois dos pilares da civilização moderna, ocidental e liberal, como os EUA e a França, dão passos significativos para a construção de instrumentos de monitoramento, restrição e até mesmo de banimento de conteúdos nas Redes Sociais?

Sim. Com apoio oficial do Google e do Facebook, os mais importantes veículos de comunicação da França (Agência France Press, Le Monde, Channel 4) e empresas de Mídias de diversos países, como a norte americana Bloomberg e a inglesa BBC News.

O principal argumento? Os EUA estão “divididos” desde a última campanha presidencial. A França começa a viver a próxima corrida presidencial.

Como será feita a ação? Um grupo de mais de 250 profissionais fará “checagem” de todas as notícias publicadas e com possibilidade de inserção de dados, números, informações ou citações que não sejam verdadeiras ou “absolutamente” verdadeiras. Cada informação necessitará ser verificada por pelos menos dois profissionais e, caso constatada alguma incorreção, novo texto será gerado para esclarecimentos ou o restabelecimento da verdade.

Muitas notícias estão incorporadas nesta notícia.

A “guerra” pela verdade não termina, nunca.

A busca pela credibilidade move concorrentes. Na verdade, os une, mesmo que a contragosto.

Conseguimos isso no Brasil, com as redações infestadas de uma visão “socialista” tropical?

E, principalmente, você percebeu como os veículos de comunicação necessitam organicamente das Redes Sociais (Google, Facebook), pois são estas as propagadoras em escala planetária?

A necessidade de verificação da verdade nas notícias veiculadas mundo afora é sempre fonte de discussão e grande desconfiança: É censura prévia? Quem pode realizar essa verificação? Afinal, um grupo pode verificar o “outro” e continuam as guerras de versões, de visões, numa retroalimentação sem fim…

O fenômeno da chamada “Pós-Verdade” é recente, impactada pelas últimas eleições norte americanas, quando Donald Trump e Hillary Clinton foram atacados por seus grupos adversários – e pelas Mídias que defendiam abertamente um dos candidatos e atacavam seu rival – com suposições, meias verdades e insinuações de toda ordem.

Das emissoras de TV – muito engajadas com seus respectivos candidatos – o fenômeno teve imediato desdobramento para as Redes Sociais e disparou o alerta nas Redes Sociais que, até então, passavam imunes às questões eleitorais e ideológicas.

A Alemanha, também com eleições programadas para o fim do próximo ano, monitora a polêmica da “Pós-Verdade” e pode ser o primeiro país a legislar sobre o tema, identificando e criminalizando o uso indiscriminado da Mídia (e das Mídias Sociais) com o objetivo de inibir o dirigismo do jornalismo político – mesmo quando travestido de uma simples postagem.

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