O marketing de vitrinas já não basta – O eleitor quer conferir

Por Woile Guimarães

A democracia traz dentro de si o germe do inconformismo e o fermento das transformações. Foi o que vimos nas Diretas Já e depois no movimento que levou Collor à renúncia. Vivendo agora o burburinho brasileiro de manifestações de rua, o papa Francisco aconselhou os políticos a se aproximarem do povo. Um oportuno conselho, não fosse uma advertência.

A democracia brasileira, reconquistada a duras penas, resistiu e mostra estar preparada para os embates das ruas. Governantes, políticos e instituições constataram que tinham muitas dívidas acumuladas. Deviam diálogo, explicações administrativas e satisfações morais, sinceridade, respeito e verdade aos jovens, aos manifestantes que desfilaram seus pleitos e inconformismos pelas avenidas.

O conselho do papa, de uma obviedade atroz, vale também para os que cuidam da imagem dos políticos. Não se pode fazer marketing, propaganda, comunicação sem conhecer, sem frequentar a linha de frente. Sem visitar as angústias e sentir, desde as pranchetas e discussões técnicas, o tamanho dos problemas e a viabilidade das suas soluções.

Com a atual velocidade de desconstrução das redes sociais, exige-se do comunicador uma síntese cada vez mais veraz e responsável. Declarações de políticos engravatados, pronunciamentos apressados, frases de efeito já não convencem. O momento exige diálogo sério. E ele começa com a firme disposição de ouvir e entender os que os elegeram.

Os partidos, escorraçados desses movimentos populares que antes conduziam, foram colocados no mesmo horizonte de descompromisso com as urgências populares. Fato semelhante acontece com as centrais sindicais, que buscam recuperar credibilidade perdida. Acossado também em Brasília, o primeiro lance do marketing presidencial com os manifestantes foi “tipo Net”: “deixa que eu resolvo, vamos fazer assim e assado”. Ou seja: aqui estão problema e solução. O problema é que, ao longo do tempo, as vitrinas de promessas foram ficando cheias, mas faltaram produtos no estoque, a encomenda atrasou e as explicações, quando dadas, não convenceram. Acontece em todos os níveis de governo.

As redes sociais – agora com mobilização mais ágil e concatenada – navegaram nesse vácuo de descrédito dos partidos e governantes. Anarquistas, grupos com e sem bandeiras – alguns com passivo de atentados, sequestros e mortes no exterior – dão palavras de ordem, afinam discursos e tentam envolver cidadãos acossados pela violência, pela inflação e outros fantasmas. São minoria. Ainda.

O despencar da credibilidade dos atores políticos é prova que não se pode – impunemente – prometer, propagandear e depois não cumprir. Acumulam-se a falta de planejamento, erros de cálculo, fracasso de gestão, desídia na fiscalização, desvios de recursos… Tudo aparece na mídia (santa liberdade de imprensa!) e, ato contínuo, já está nas redes sociais. A contrafação com marketing de vitrina é pífia. Imagens despencam.

A par do desgaste desse tipo de marketing, a explosão das ruas reflete um afastamento flagrante de políticos e governantes dos problemas reais do cidadão. Revela também, por vezes, além de uma comunicação açodada, um atrelamento precipitado a emergências eleitoreiras. O cidadão percebe, não aprova. E nesse cenário de incertezas e inseguranças não absorve as mensagens.

Comunicadores, políticos, governantes e instituições – todos ficaram na chuva e estão às voltas com suas deficiências e desafios. A bem-vinda “Revista Estratégia – Marketing Político” chega com um cardápio denso de assuntos. Além de estudiosos e especialistas de um marketing em cheque, poderia ouvir os próprios políticos sobre o exercício da Política – a arte de construir o bem comum. Comecei falando do papa, termino citando o presidente Lincoln: “Quando pratico o Bem, sinto-me bem. Quando pratico o Mal, sinto-me mal.” Óbvio e desafiadoramente político. Como a mensagem do santo pontífice.

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Woile Guimarães é jornalista. Atuou na Folha SP, Estado, JT, 4 Rodas, Cláu- dia, Realidade, Fotografia, Bondinho, Placar, TV Guia e TV Globo. Atuou em campanhas eleitorais no Brasil e no exterior. É sócio da GW Comunicação e é consultor de Comunicação Pública.

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